São 60 mulheres trabalhando na construção do palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. GLOBOESPORTE.COM foi ouvir algumas histórias
Luciana Lima Pereira, de 35 anos, é deficiente auditiva. Por conta de uma infecção, quando tinha apenas um ano, perdeu totalmente a audição e, consequentemente, a capacidade de falar. Casada com um homem que tem o mesmo problema, ela é mãe de três filhos (dois gêmeos de 15 anos e um de cinco) e atualmente é auxiliar administrativa de recursos humanos na obra do estádio do Corinthians, em Itaquera.
Maria de Lourdes Almeida Oliveira, de 46 anos, trabalha há 17 como sinaleira de obras. Orgulhosa por ter conquistado espaço em um universo predominantemente masculino, ela considera seu trabalho de grande responsabilidade para o bom funcionamento da construção do estádio do Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.
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Cinthia Rodrigues Martins, 28, é engenheira civil e também se vê como uma vencedora dentro da obra. Empolgada com a exposição que o estádio do Timão tem na mídia, ela valoriza ainda mais cada dia de trabalho no canteiro. Sabe que é a oportunidade de fazer seu trabalho aparecer mais. Afinal, ela é uma das que ajudam o projeto do campo paulista para a Copa caminhar a passos largos.
Luciana, Maria de Lourdes e Cinthia são apenas três das 60 mulheres que trabalham na obra do estádio do Corinthians, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo. Mas pode-se dizer que o trio representa bem esse time, que nesta quinta-feira, 8 de março, comemora o Dia Internacional da Mulher. Aliás, a Odebrecht, construtora responsável pela obra, fez uma homenagem a elas.
Antes de iniciarem seus turnos de trabalho, as mulheres de Itaquera vão receber um presente dos seus empregadores e participar de palestras. O tema da conversa será prevenção do câncer de mama e de colo do útero. Quem está à frente dessa campanha é Simone Moreira Martins, enfermeira do trabalho. Na obra, há mulheres desde a recepção e administração até o canteiro de obras.
Felicidade em libras
Por conta de sua deficiência auditiva, Luciana Lima Pereira só se comunica em libras, a linguagem dos sinais. Mas ela nem precisaria falar com as mãos para provar sua felicidade em trabalhar no estádio do Corinthians. O sorriso espontâneo e a simpatia dizem tudo.
- Aqui é o meu segundo emprego. Sou muito feliz por poder trabalhar nessa obra. Faço parte da área de recursos humanos – contou Luciana.
Acompanhada quase sempre da assistente social Maria Isabel Ferreira Rodrigues, que serve de intérprete, Luciana já superou o trauma de ter perdido a audição ainda bebê. Estudou até o colegial e atualmente leva uma vida normal ao lado do seu marido e três filhos.
- Desde que tive uma febre muito alta quando tinha um ano nunca mais ouvi nem falei. Mas estudei e hoje tenho um emprego, um marido e três filhos. O mais novo, de cinco anos, é quem melhor se comunica em libras comigo.
Sinais de responsabilidade
Maria de Lourdes é uma das operárias mais experientes da obra em Itaquera (contando também o universo masculino). Há 17 anos, ela trabalha como sinaleira, uma das funções mais delicadas em um canteiro. É dela a responsabilidade de coordenar a movimentação das máquinas que carregam os materiais mais pesados e fazer com que os operadores não cometam erros de cálculo.
- É um trabalho de muita responsabilidade, paciência e agilidade também. Sou eu que dou o sinal para os operadores e determino onde vai a carga.
Depois de quase duas décadas nesse trabalho, Maria de Lourdes comemora a igualdade de condições com os homens. Segundo a sinaleira, antigamente era mais difícil de os operários aceitarem uma mulher no canteiro. Mas atualmente a presença delas é algo natural (e fundamental para a obra).
- A relação melhorou demais. No começo o pessoal ficava um pouco assustado com mulher na obra, mas hoje temos o nosso espaço. Nunca sofri preconceito, mas percebia que nos impunham limites. Isso mudou. E para mim é uma honra fazer parte de uma obra histórica como essa – acrescentou Maria de Lourdes.
“Onde se ganha o pão...
...não se come a carne”. O ditado popular que brinca com a relação amorosa no ambiente de trabalho é uma espécie de mantra para a engenheira Cinthia Rodrigues Martins. Calejada desde a faculdade com a maioria masculina, ela dá um alerta: as mulheres estão cada dia mais conquistando espaços nas obras.
- A faculdade nos prepara desde cedo para enfrentar essa diferença. Mas hoje cada vez mais tem mulher na construção civil. E os homens respeitam a posição da mulher. O tratamento é igual – comentou Cinthia.
Jovem, mas experiente na construção civil, Cinthia, de 28 anos, dá dicas às mulheres que pretendem enveredar pelo caminho da engenharia.
- Onde se ganha o pão, não se come a carne. É ambiente profissional e você tem de pensar como vai agir, como vai se vestir, porque tem muito homem para pouca mulher. Se não tomar cuidado, se expõe de maneira desnecessária.
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