segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Três gerações de uma família e a missão: reconstruir o Castelão

Avô e pai Damasceno construíram o estádio Castelão no início dos anos 70. Francisca Falcão está nas obras de reforma para a Copa 2014
Por Diego Morais
Fortaleza, CE



Pai visita a filha nas obras do Castelão (Foto: Diego
Morais / Globoesporte.com)Ela chega todos os dias logo no início da manhã ao trabalho, como milhões de mulheres por todo o Brasil. Porém, o ofício dela não é tão comum assim ao universo feminino. Sem esquecer o batom, faz rejuntamentos, reboca paredes, senta pisos, pinta espaços... Francisca Falcão Damasceno, mais conhecida como Falcão, é pedreira e uma das 28 mulheres que trabalham hoje na construção da Arena Castelão.

- Sinto orgulho em ser pedreira - declarou Falcão.

O orgulho em ser pedreira tem explicação. Seu avô e seu pai tinham a mesma profissão. O mais interessante, porém, é que o pai e o avô de Falcão trabalharam na construção do Castelão no início dos anos 70.

- Meu pai foi quem me ensinou tudo, mas hoje eu faço tudo mais rápido que ele - brincou Falcão, abraçando seu pai.

O pai chama-se Juraci Eufrásio Damasceno e, hoje, aos 60 anos, já não tem a mesma agilidade de quando ajudou a construir o Castelão. Mas ainda continua forte e trabalhando em obras. O GLOBOESPORTE.COM/CE presenciou a reunião entre pai e filha na nova Arena que está sendo construída no lugar da antiga e que vai receber em Fortaleza jogos da Copa do Mundo de 2014. Atualmente, Falcão já contribuiu para que as obras chegassem à marca de 43% de conclusão.

Seu Juraci, como é mais conhecido, não aguenta a emoção ao olhar para tudo aquilo sendo colocado abaixo para levantar um estádio novo, mais confortável e muito mais moderno que o antigo.

- Dá uma tristeza, uma pontada no coração, mas se é pra melhorar, a gente entende - disse o emocionado pedreiro.

A emoção de Seu Juraci em ver o avanço das obras do novo estádio se mistura com a sensação de ver sua filha completando um ciclo que foi começado por seu falecido pai Zacarias Eufrásio.

- Eu comecei a ensinar as coisinhas a ela quando ainda era pequena e hoje é bonito ver como ela aprendeu tudo rápido - afirmou Seu Juraci.


Falcão trabalha de 7h às 16h nas obras do Estádio
(Foto: Diego Morais / Globoesporte.com)Falcão aprendeu rápido e sabe fazer bonito. Na construção, chega com sua moto logo cedo e não dispensa acessórios femininos como batom, brincos e pulseiras. No entanto, ao vestir o macacão, calçar as botas, luvas e pôr o capacete, ela se transforma em uma operária como qualquer outra. O resultado é que ninguém a discrimina por ser mulher, em meio a mais de 700 homens.

- Aqui eu trabalho igual a todo mundo. Todos me respeitam e eu não deixo de fazer nenhum trabalho porque é pesado ou não. O que eu não sei eles me ensinam e me ajudam. O relacionamento com todo mundo é ótimo - disse a operária.

Trabalhar no Castelão, por sinal, foi a realização de um sonho.

- Meu avô trabalhou aqui e meu pai também. Quando anunciaram que Fortaleza estaria na Copa, eu corri pra colocar meu currículo para trabalhar aqui. Meu antigo encarregado falava que eu não conseguiria, mas eu consegui - declarou Falcão.

A operária e mulher também é mãe, esposa e até avó, mesmo aos 33 anos. São 4 filhos e 2 netos - o terceiro nasce em dezembro próximo. Depois de conseguir realizar o sonho de trabalhar como pedreira no Castelão, agora ela divide dois outros grandes desejos. O primeiro é que um dos filhos siga seus passos e continue a tradição de pedreiros na família. O outro é conseguir assistir a uma partida de Copa do Mundo no novo Castelão.

- Nem que eu precise juntar muito dinheiro, fazer poupança. Não quero ser apenas como aquela música do Zé Ramalho que diz 'Tá vendo aquele edifício, moço? / Ajudei a levantar'. Quero também poder trazer minha família aqui e ver de perto o que eu ajudei a construir - cantarolou e se emocionou a obstinada pedreira.


Imagem do projeto do novo Castelão (Foto: Divulgação)

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